quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Eu quero, eu posso, eu faço

Por Carin Hommonay Petty e Katia Simões para PE&GN

Foram 12 meses de pura rotina. Diariamente, o jovem Gustavo Ely Chehara, hoje com 27 anos, chegava às 10 horas à sala de espera da administração do Shopping Center Norte, em São Paulo, e de lá só saía às 18h, sempre com a certeza de que seria recebido. Tamanha determinação tinha por objetivo convencer o superintendente de um dos mais disputados espaços comerciais da cidade a ceder-lhe um quiosque. Tinha Gustavo Ely Chehara, 27 anos, o imediatista: "Eu sempre quero as coisas para ontem"R$ 35 mil, resultado das economias obtidas com a venda dos mais variados produtos, de jogos para videogames a perfumes e tênis. Fazer negócios sempre esteve na pauta de seu dia a dia. Na infância, vendia papéis de carta estampados com decalques; na adolescência, comandava uma loja de jogos para computador e, no início da faculdade, transformou o espaço de um salão de beleza no próprio Center Norte em um ponto de venda de perfumes importados, capaz de incomodar os varejistas do setor.

Mas nada se comparava ao passo que estava disposto a dar quando entrou pela primeira vez na sala da diretoria do shopping. "Um ano depois, quando o responsável me avisou que eu teria três dias para apresentar uma proposta, eu quase não acreditei", lembra Gustavo. "Na ânsia de batalhar pelo espaço, eu me esqueci de planejar o que iria vender. Sabia apenas que ali começaria um bom negócio."

Ele conta que não pensou duas vezes quando, almoçando com a mãe, foi abordado por um menino oferecendo docinhos de festa. "Na hora imaginei que poderia ser um produto bom para venda em quiosques e eu não tinha visto nada parecido no Center Norte", afirma. Arrematou a caixa do pequeno vendedor e apresentou-a ao superintendente, com a autoridade de quem sabia muito bem o que estava fazendo. "Quando acredito em uma ideia, não sossego enquanto não a ponho em prática", afirma. "Eu nunca quero as coisas para hoje, sempre para ontem. Sou imediatista mesmo."

Graças à postura segura e à ousadia típica de quem confessa não gostar de ouvir um não sem uma boa justificativa, Gustavo obteve o sim que tanto esperava. Mais do que isso, negociou um bom contrato de locação e a isenção de aluguel para os 20 primeiros dias. "Foi a perseverança em não desistir diante do primeiro obstáculo que me convenceu a lhe dar um voto de confiança", conta Duílio Lencione, superintendente do Shopping Center Norte. "Meu feeling de mais de 30 anos de varejo sinalizava que aquele menino iria longe."

O pai, seu Antoine Chehara, porém, não tinha a mesma certeza. A princípio, duvidou do negócio. "Ninguém pode ficar rico vendendo docinhos", dizia. Mas resolveu emprestar o dinheiro para a abertura da empresa, pois as economias de Gustavo haviam minguado nos 12 meses de espera. O acordo era de que o empréstimo fosse quitado em um ano, caso a proposta vingasse. E vingou. "Só no primeiro dia, vendi 1.153 doces. Era o sinal de um bom começo", conta o empresário. "Devolvi tudo em dois meses."

Com metas de crescimento sempre ambiciosas, em três anos Gustavo ergueu a rede de docerias Docella e construiu uma fábrica de 900 metros quadrados, que abastece as 12 lojas próprias e 42 bufês. O próximo passo, de acordo com o jovem, será lançar seu projeto de franquia. A intenção é terminar 2010 com 100 lojas em operação. "Eu sinto um enorme prazer quando atinjo um objetivo, mas no mesmo minuto saio em busca de outro ainda mais difícil. Só sei pensar grande", afirma. "Se não consigo o que quero, sofro." A vontade de querer ganhar sempre rendeu-lhe o apelido de Dunga e a fama de autoritário. "Gosto de estar no comando, não sei obedecer regras. Talvez esteja aí a resposta por eu nunca desejar ser empregado. Não tenho nada contra, apenas não consigo."

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