Depois de anos na informalidade, mais de 800 mil brasileiros viram pessoa jurídica e esperam um futuro melhor
Por Adriana Fonseca para Pequenas Empresas & Grandes NegóciosEles têm as mãos marcadas. De tecer móveis de bambu, moldar penteados, transformar restos de papel em objetos, colocar festas em pé, assar bolos, ensacar ervas medicinais, esquentar cera. Linduina, Valdeci, Giana, Tânia, Sérgio, Edmilson e Ricardo. Sete brasileiros que lutam para ganhar a vida por conta própria e que, de um ano para cá, realizaram um sonho: formalizar o negócio. Fazem parte de um grupo de 424 mil pessoas que aderiram ao Microempreendedor Individual (MEI), figura jurídica instituída em julho de 2009 para regularizar empresas com faturamento de até R$ 36 mil por ano. Bem-vindos.
“Eu e meu marido Almiro morávamos em Caseara, uma cidade pequena do Paraná. Eu era cozinheira e ele colhia cana. Que trabalho sofrido ele tinha... Aquilo não é vida. Em uma das entressafras, o Almiro decidiu que iria parar. Depois de 12 dias em um curso de móveis com bambu, ele chegou em casa e me disse que iria usar o dinheiro da demissão para comprar comida para três meses e matéria-prima para começar o negócio. Fiquei com medo. Tínhamos dois filhos pequenos. E se não desse certo? Mas eu apoiei a decisão. A primeira cadeira não ficou boa. Pensei: que burrada. Só que eu tinha que continuar acreditando. Quando conseguimos fazer uma cadeira direito, foi muita emoção. Como a gente não tinha carro, o Almiro levava os móveis nas costas para vender. Tem marcas nos ombros até hoje por causa disso. No primeiro dia, saiu com duas peças. Vendeu tudo e ainda voltou com três encomendas. Depois, fomos para São Paulo. Durante 14 anos, eram 40 dias produzindo os móveis no Paraná e o resto do tempo em São Paulo. Um ano atrás, tivemos muito problema com cheque sem fundos e faltou dinheiro. Decidimos recomeçar a vida em Caieiras. A gente faz os móveis na semana e, de sexta a domingo, coloca tudo em cima do caminhão para vender em um ponto próximo aos condomínios de casas. Ganhamos R$ 600 por semana. Não queremos mais aceitar cheque, só que muitos clientes pedem para parcelar as compras. Como não dá para ter máquina de cartão de crédito como pessoa física, abrimos a empresa pelo Microempreendedor Individual.” |
“Quando eu era adolescente, já gostava de cortar cabelo. Não sei muito bem como aprendi, mas fazia sucesso com parentes e amigos. Decidi me matricular em um curso para me aperfeiçoar e comecei a trabalhar como cabeleireiro. Depois de dois anos, abri o meu próprio salão. No começo eu fazia tudo sozinho, mas logo a clientela aumentou e precisei de um empregado. Foi um problemão: ele me roubava e demorei para perceber. Quando desconfiei, comecei a anotar todos os serviços que a gente fazia em um caderninho e consegui comprovar que ele estava pegando dinheiro a mais. Desde então, tenho um controle certinho de tudo o que entra e sai. São perto de 100 clientes por semana, o que dá uma renda de R$ 3 mil por mês. Há dois anos, contratei um outro funcionário, que é ótimo. Quando eu era empregado, o salão ficava com 55% do valor dos cortes que eu fazia. Nunca achei aquilo justo, mas era a prática em todo o mercado. Só que, quando abri o meu, decidi que seria diferente. Eu fico com 30% do serviço feito pelo funcionário e tem dado certo. Ele é muito dedicado e atencioso com os clientes. Como Microempreendedor Individual, vou poder registrá-lo. E também pegar empréstimo. Na época em que o prefeito Kassab implementou a Lei Cidade Limpa, tive que mudar a fachada do salão. Fui atrás de crédito nos bancos e não consegui nada. Precisei pedir ajuda para a minha mulher, que é registrada. Agora, vai ser tudo diferente. Mandei até emoldurar o registro do meu negócio. Antes, eu tinha apenas uma porta aberta. Agora, tenho uma empresa.” |
“Me formei em educação física e dei aula na rede pública por 15 anos. Em paralelo, como sempre gostei de dobraduras e trabalhos manuais, comprava umas revistas e fui aprendendo a fazer artesanato. Minhas vizinhas adoravam e eu vendia para elas o que fazia. Depois de alguns cursos, me especializei em revestir material de escritório com tecido e papel que eu mesma reciclo. Larguei o magistério. Faço agendas, blocos, cadernos e até caixas. Eu e mais cinco amigas artesãs vendemos para conhecidos e em feiras de clubes e associações. Isso me dá uns R$ 500 por mês, o que complementa meu salário como professora de oficinas de artesanato. Nossa ideia é abrir um ateliê. Por isso nos cadastramos no Microempreendedor Individual. Precisamos de financiamento para reformar a casa. Já estão avaliando minha solicitação no Banco do Povo e espero conseguir inaugurar meu espaço até o final do ano.” |
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