por Rodrigo Ratier para revista Mundo Estranho
É possível, sim - e isso já ocorre em vários países onde a água doce de rios, lagos e represas é escassa. Hoje, mais de 100 nações, principalmente no Oriente Médio e no norte da África, possuem usinas que retiram da água salgada o cloreto de sódio (o sal de cozinha), deixando o líquido pronto para beber. A primeira usina de dessalinização surgiu em 1928, na ilha de Curaçao, no Caribe. O equipamento pioneiro simplesmente evaporava a mistura em enormes colunas de destilação para tornar a água potável. A partir da década de 40, porém, surgiram métodos mais refinados, possibilitando a instalação de miniusinas em navios que permanecem muito tempo em alto-mar. Entre as novas técnicas, a mais bem-sucedida é a chamada osmose reversa, que separa o líquido por meio de um plástico poroso que barra os sais.
"Na maioria dos processos, cerca de um terço da água do mar vira água potável, enquanto os dois terços restantes são descartados na forma de salmoura, um líquido com alta concentração de sais que sobra da separação", afirma o geólogo Aldo Rebouças, da Universidade de São Paulo (USP). O descarte desse resíduo é um dos grandes dilemas da dessalinização. No solo, a salmoura inibe o crescimento das plantas. Se a mistura cair em correntes de água doce, ela pode matar a vida aquática sensível ao sal. O ideal é despejar o resto de volta no mar ou em lagoas de água salobra. O Brasil, mesmo sendo um dos países mais ricos em água doce, também utiliza processos de dessalinização para purificar a água de lençóis subterrâneos no Nordeste. A iniciativa é controversa. "Mesmo onde o lençol freático é mais salino, a qualidade da água dos poços artesianos costuma melhorar naturalmente no máximo um ano depois da perfuração", diz Aldo.
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